Para Saber mais informações sobre o trabalho de Gabriel Bá visite http://www.10paezinhos.com.br/

Como você começou a se interessar por quadrinhos? Quando você decidiu se tornar um quadrinhista?Sua família o apoiou na decisão de se tornar um quadrinhista ou você teve que convencê-los, já que essa não é uma profissão tão comum?
Gabriel: Eu desenho desde pequeno e sempre li Histórias em Quadrinhos. Minha mãe sempre gostou e comprava as revistas e lia conosco. Quando o Fábio e eu tínhamos uns 14 anos, vimos que HQ era realmente o que queríamos fazer. Fizemos faculdade de Artes Plásticas, mas nunca deixamos de ir atrás do nosso sonho, continuando a fazer pequenas histórias e fanzines. Quando nos formamos, começamos a trabalhar mais intensamente no mercado editorial e as coisas começaram a entrar nos eixos. Sempre tivemos apoio da família, pois eles viam que nosso interesse era genuíno e que nossa dedicação era séria, não era só uma brincadeira.
Você tem um irmão gêmeo, Fábio Moon, que também desenha HQs. Como se deu essa relação entre os dois e a paixão pelos quadrinhos? Já houve algum tipo de competição entre os dois pra saber quem desenhava melhor?
G: A minha relação com o Fábio é o maior diferencial que nosso trabalho tem em relação a outros autores de Quadrinhos, pois temos uma colaboração constante e isso ajuda muito no resultado final. Sempre houve uma pequena competição saudável, mas isso só ajudou para que nós dois fizéssemos sempre o máximo da nossa capacidade, pois o outro estava sempre fazendo o dele.
Você trabalha muito em conjunto com seu irmão nos quadrinhos, como na criação da série 10 pãezinhos. Até que ponto você acha que seu trabalho é influenciado pelo dele e o dele influenciado pelo seu?Qual o melhor e o pior de trabalhar com seu irmão gêmeo?
G: Nossa vida inteira sempre foi muito compartilhada e isso cria uma dinâmica na nossa relação que se estendeu ao nosso trabalho também. Nos entendemos muito bem e muito rapidamente, sem precisar de muitas explicações e isso ajuda muito, torna as coisas mais naturais. Nós dois temos a mesma paixão e envolvimento com o que fazemos e isso é o mais difícil de encontrar num parceiro de trabalho. Não tem lado ruim de trabalhar com o Fábio, na verdade.
Você é formado pela USP em Artes Plásticas. Você acha a sua formação acadêmica importante no seu trabalho? E quanto da sua formação você acha que influencia no seu trabalho?
G: Foi muito importante para nós dois a faculdade, por nos ajudar a desenvolver um senso crítico do nosso trabalho, além de sempre contextualizar a arte com seu momento histórico. A arte sempre é um reflexo do momento que foi criada e vemos isso muito claro no nosso trabalho também. Além disso, conhecemos muitas pessoas com trabalhos diferentes dos nossos e isso também ajuda a conhecer melhor os limites do nosso trabalho.
Seus trabalhos tem uma característica muito própria e diferente do que se encontra nos quadrinhos. Que quadrinhos você diria que tiveram influencia no seu estilo de desenhar?
G: Gostamos muito de histórias cotidianas, onde o leitor identifica os cenários ou as situações com o que ele próprio vive. Mesmo quando se trata de uma ficção científica ou uma fantasia, é importante colocar elementos para o leitor se relacionar. Quem faz isso muito bem é o Laerte e ele é uma das maiores influências no nosso trabalho. O Will Eisner também sempre colocou muito da sua vida e seu cotidiano nas suas histórias e isso se vê refletido nas nossas.
Quais quadrinhos e que histórias você diria que são seus favoritos? Você coleciona livros de quadrinho?
G: Tem um pouco de tudo, pois já lemos muita coisa. Se fosse pra escolher alguns, seria "Bone", do Jeff Smith; "Watchmen", do Alan Moore e Dave Gibbons; "O Cavaleiro das Trevas", do Frank Miller; "Lobo Solitário", de Kazuo Koike e Goseki Kojima; "100 Balas", do Brian Azzarello e Eduardo Risso; e "O Edifício", do Will Eisner.
O que você acha da onda de filmes baseados em quadrinhos como X-men, O Motoqueiro Fantasma, Homem Aranha e tantos outros?
G: Alguns são bons, por conseguir transpor a essência da história para o filme, outros são uma porcaria.
Será que um dia veremos seus quadrinhos em uma telona? O que você acharia disso?
G: Não pensamos muito nisso. Precisaria ser bem feito, com o nível de qualidade que impomos ao nosso trabalho.
Seu primeiro trabalho publicado nos Estados Unidos, a serie ROLAND, ganhou o prêmio Xeric Foundation Grant. Como foi receber um prêmio logo na primeira publicação?
G: Este prêmio serve pra incentivar Quadrinhos independentes e foi isso que aconteceu com o ROLAND. Mandamos o projeto dois anos seguidos. Na primeira vez, só tínhamos um capítulo a lápis e mais três pro fazer, e não fomos premiados. No segundo ano, já tínhamos 75% do material pronto e aí sim fomos escolhidos. Ajudou muito na parte financeira, mas principalmente na parte de divulgação do projeto, pois o prêmio também incluía anúncios em revistas especializadas.
Com o livro Autobiographix publicado pela Dark Horse você, juntamente com seu irmão teve a oportunidade de trabalhar com lendas dos quadrinhos como Frank Miller e Will Eisner. Como surgiu o contato da Dark Horse para o Autobiographix? E como foi trabalhar com nomes de peso dos quadrinhos?
G: Nós já vínhamos mostrando nossas histórias para a Diana Schutz, editora da Dark Horse, há alguns anos e ela nos convidou pra participar desta coletânea por acreditar que nosso trabalho combinava muito com o conceito do livro, somente com histórias autobiográficas. O fato de publicarmos ao lado de nomes como o do Will Eisner, Frank Miller e outros só nos motivou mais a aceitar o convite e nos esforçarmos ao máximo. Foi uma experiência única que não se repetirá outras vezes. Foi uma honra.
Você abriu muitas portas para novos artistas entrarem no mercado. Como o trabalho de artistas brasileiros é visto em outros países?
G: O mercado está crescendo e sempre tentamos incentivar artistas a produzir mais, mostrar mais seus trabalhos. Quando achamos que um trabalho se destaca, é nosso dever divulgar isso para que pessoas também fiquem conhecendo aquele artista ou aquela história. Os brasileiros são muito bem vistos em outros países, o maior problema é interno mesmo, pois não temos muita valorização da nossa profissão aqui no Brasil.
No ano passado o seu trabalho De:TALES pela Dark Horse foi eleito pela Booklis um dos 10 melhores contos de quadrinhos do ano e ganhou medalha de prata pela Foreword Magazine como Livro do Ano. Como e receber prêmios tão importantes nos quadrinhos? É desafiador para a criatividade ou apenas o reconhecimento de um trabalho?
G: Por um lado chega a ser inacreditável o reconhecimento que o De:TALES está recebendo, mas é resultado de anos de esforço e determinação. Isso só nos mostra que estamos no caminho certo e nos motiva a continuar fazendo mais e melhor sempre.
Seu mais recente trabalho The Umbrella Academy também pela Dark Horse foi lançado agora em Setembro e tem parceria com Gerard Way, vocalista da banda My Chemical Romance. Como você se envolveu nesse trabalho morando no Brasil?
G: O Scott Allie, editor da Dark Horse responsável pelo projeto, já conhecia meu trabalho e mostrou para o Gerard e ele gostou e aí eles vieram atrás de mim. Me mostraram o projeto, alguns desenhos dos personagens e eu topei participar. Foi tudo bem inesperado e bem rápido.
Como você conheceu Gerard Way?
G: Foi resultado do projeto. Encontrei com ele em duas ocasiões, ambas na Comic Con de San Diego, em 2006 e 2007.
Gerard também é formado em artes e escreve a história e o roteiro para o Umbrella Academy. Como é pegar as visões dele e transformar em suas visões para os desenhos?
G: O estilo do Gerard é bem bacana e foi fácil adaptá-lo ao meu na hora de criar o universo do "Umbrella Academy". Ele sabe muito bem o que quer, tem um repertório de referências muito bem definido e é só seguir esta linha que nos entendemos muito bem. Ele tem gostado muito das páginas e isso é ótimo para o andamento do projeto.
É mais difícil por ele estar em constante turnê com a banda ou você tem tempo pra trabalhar nos desenhos e no processo criativo com ele?
G: O mais difícil para ele é conseguir parar e escrever, realmente. É o que demanda muita concentração e com a turnê ele não tem muito como se dedicar inteiramente a isso. Mas o processo de criação da revista vai bem, pois ele está sempre disponível pra aprovar e dar opiniões sobre o meu trabalho e nos falamos diariamente por e-mail.
Uma previa do The Umbrella Academy foi distribuída esse ano no Free Comic Book Day que acontece em Nova Iorque e você fez uma tarde de autógrafos no Comic Com de 2007. Como você diria que foi a receptividade entre os aficionados por quadrinhos?
G: Ainda não tenho muito retorno dos fãs de Quadrinhos e acho que só teremos uma idéia real da reação do público quando a série começar em setembro.
Você alguma vez se preocupou que seu trabalho no Umbrella Academy fosse visto apenas por fans da banda My Chemical Romance e não por pessoas genuinamente interessadas em quadrinhos?
G: Me preocupo mais que os fãs da banda só comprem a revista por ser o Gerard que escreve, sem se interessarem realmente pela história.
The Umbrella Academy tem uma versão em português prevista para se lançada?
G: Ainda não.
Como é saber que hoje garotos se inspiram pelas suas historias e pelos seus desenhos?
G: Sobre pessoas se inspirarem pelo meu trabalho, fico feliz, mostra que estou atingindo as pessoas e é uma motivação a mais pra continuar produzindo novas histórias.
Qual o próximo passo para dois irmãos já tão consagrados no universo dos quadrinhos? O que podemos esperar do seu trabalho?
G: Este ano vamos lançar ainda uma coletânea das histórias curtas do 10 Pãezinhos ainda fanzine, que datam de 1997 a 2001, para mostrar um pouco do processo de evolução do nosso trabalho. Pretendemos lançá-lo em Outubro. Além disso, continuamos a pensar e produzir novas histórias. Não se pode ficar acomodado, é preciso continuar e crescer sempre.
Qual o conselho e que dicas você daria para aqueles que tentam construir uma carreira como quadrinhista?
G: Produzir sempre. Somente produzindo regularmente é que seu trabalho vai evoluir e melhorar. E mostrar o seu trabalho é importante, pois só quando as pessoas nos apontam os defeitos no nosso trabalho é que podemos corrigi-los e crescer como Quadrinhistas.
Entrar no mercado dos quadrinhos pelo dinheiro ou pela paixão?
G: Sempre pela paixão. O dinheiro é um resultado.
Um comentário:
entrevista feita em agosto de 2007 antes do lançamento oficial de Umbrella Academy
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